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RETRATO DE CENA

*Marcelo Fiuza (Jornal O Tempo 14/01/2005)

Lentes diversas. Equipamento em ordem. Luzes, câmera, ação e clique. Vários cliques. Muita bagagem. Cenas descobertas pelo nu da fotografia. São 11 anos de carreira e o registro de grandes espetáculos. Até a tecnologia digital faz parte desse aprendizado. Hoje, 17 anos depois da primeira cena, Guto Muniz não está preocupado em reunir as mais de 400 fotografias do portfólio em livros ou em montar exposições individuais. A proposta atual é usar o registro que fez, seja para o teatro, a dança ou para os maiores festivais abrigados na cidade com o objetivo de projetar, como um todo, a arte cênica mineira.

O primeiro passo já foi dado. O fotógrafo montou um site com fragmentos desse trabalho. Ele mesmo faz questão de encaminhar o material pela internet. E disponibilizar esse arquivo vivo para os quatro cantos do planeta.

Muita ou pouca luz. Movimento. Cores. Roteiros tão vastos quanto os registros da máquina. O fotógrafo é um tipo de contador de histórias feitas de imagens em policromia ou preto e branco. Do entrosamento com diretores, atores, coreógrafos, iluminadores e do trabalho de campo em bastidores e cenas, surgiu o hábito de antecipar-se às ações. Captar a essência do espetáculo, ainda que o flagrante retrate a “alma” de um boneco,é também um traço marcante no trabalho de Muniz, que começou a fotografar ainda na graduação.

Expressão do olhar

Na oficina de atores da universidade, apaixonou-se pelo teatro e pelas muitas formas de representação da arte. Como não tinha talento para atuar, passou a registrar os espetáculos em fotos. “Meu primeiro trabalho foi para uma tarefa acadêmica, com a peça “Josefina Cantora”, da Cia. Absurda. Logo em sequência fiz ‘A Comédia da Esposa Muda’, do Galpão. Na época, não tinha contratos. Fazia as fotos sem pretensão comercial. Por mim mesmo, para expressar o meu olhar.”.

Chico Pelúcio, coordenador do Grupo Galpão, diz que Muniz tem olhar de diretor. “O Guto é um cara super sensível. Ele consegue registrar os momentos mais importantes do espetáculo”, elogia. Pelúcio aborda também a briga comum entre conteúdo e estética. “A mensagem do teatro é tão importante quanto à estética. Ele faz esse equilíbrio de forma exemplar”, destaca.

Trabalho do artista pode ser conferido em site

Muitos eventos devem ser registrados daqui para frente, mas para este ano, Guto Muniz pretende também recuperar trabalhos antigos. “Preciso organizar esse material”. Já comecei e em algumas fotografias vi imagens que não havia reparado coisas que só agora fazem sentido. A fotografia é atemporal”, revela. Foi ele quem organizou o site www.casadafoto.art.br, onde destaca o trabalho dos 17 anos de carreira. É dessa forma, disponibilizando um portfólio em rede, que Muniz pretende lançar a arte mineira para muito além das montanhas do Estado. “Minha preocupação agora é essa. Fazer as fotos e mostrar o trabalho para todo o mundo”.

Desde os tempos de faculdade, o fotógrafo não parou mais. Ele, que procura construir a história e compor as tramas do espetáculo na cabeça, ficou conhecido no meio e tornou-se uma espécie de referência no mercado. A pontualidade, presteza e auxilio nas produções também são creditados ao seu nome. “Já conhecíamos o trabalho que o Guto fez para o Festival Internacional de Teatro (FIT). Quando decidimos fazer da Mímulus uma companhia de produção de grandes espetáculos de dança, o contratamos. Ele se dedica ao trabalho. Não é apenas aquela coisa de ir ao teatro e fazer as fotos. É preciso conhecer, saber do que se trata o tema, o que é para ser retratado. Acho que o sucesso dos resultados vem também dessa postura, do fato de ele trocar informações com toda a equipe envolvida na produção, do iluminador ao coreógrafo, e continuar a dialogar com a equipe depois de as fotos estarem prontas. Ai sentamos e ele dá palpites, ajuda na seleção e por ai vai”, comenta Jomar Mesquita.

Muniz diz que o momento impresso na foto é apenas uma porta para aguçar a imaginação e subjetividade do espectador. “A fotografia é uma linguagem aberta, sem limites.

As pessoas veem as imagens de formas diferentes.

Espetáculo de dança é novidade no currículo

A dança é um trabalho novo para Guto Muniz, já que foi em 2003 que criou mais intimidade com o segmento. “Sou um fã incondicional dos meus parceiros. Não estava muito habituado a fotografar espetáculos de dança. Foi durante o ano passado que atuei mais no segmento e também me apaixonei. Quando assisti como espectador o ‘De Carne e Sonho’, da Mímulus, fiquei orgulhoso. Pensei: poxa, esse pessoal é muito talentoso. É um privilégio trabalhar para eles!”, conta.

Se Muniz formou-se em publicidade e hoje dá aulas para o curso da Newton de Paiva, não é desse viés que tira o prazer da profissão. A foto publicitária causa-lhe um certo tédio. “ A encomenda desse tipo, na maioria das vezes, é muito padronizada. A foto tende a ser construída como um ideal e de tão moldada parece Xerox. Já o trabalho com cenas de shows, bonecos, teatro e dança libera o lado artístico do profissional”.

Para ele não existe uma descrição de técnicas a serem utilizadas para o desenvolvimento profissional na área artística. É uma questão bem emocional que vem à tona, toma conta do fotógrafo e o faz agir de forma criativa, apesar de quase mecânica. “ O bom trabalho vem daí. A técnica pode ser comparada à linguagem. Se as letras sozinhas não falam nada, saber operar uma máquina é treino, aprendizagem. É preciso mais. O cara tem que saber transmitir o que quer na cabeça, no coração. Costumo dizer que fotografo sonhos. E, isso sim, me dá margem para criar.

O Guto surgiu ainda na infância do belo-horizontino Luiz Augusto Muniz Santos, 38, “coisa de família, se me chamarem de Luiz, demoro pra lembrar que sou eu”. Já o Guto Muniz, fotógrafo dileto das companhias de teatro da cidade, responsável por um sem número de trabalhos de divulgação de montagens, surgiu em 1987, no curso de publicidade da PUC Minas quando ele matriculou-se na obrigatória cadeira de fotografia.

“Um semestre antes, havia feito uma disciplina de teatro, criamos o Grupo Tal, amador, que durou um ano e montamos dois textos de Millôr Fernandes. Mas quando fiz fotografia, me apaixonei pela arte. Sempre gostei de imagem, na minha infância, no centro de Belo Horizonte, estava a no máximo três quarteirões dos cinemas Paladium, Metrópole, Nazaré, Jacques, nas nunca tinha tido a oportunidade de trabalhar na área”, diz Guto, que comparou sua primeira máquina, um Yashica FX_D, naquele ano e tornou-se profissional. Paulatinamente foi se aproximando do meio teatral, registrou um trabalho da Cia Absurda, conheceu o Grupo Galpão e daí sua carreira deslanchou.

CAMPANHA DE POPULARIZAÇÃO DO TEATRO E DA DANÇA EVIDENCIA GUTO MUNIZ COMO FÓTOGRAFO PREFERIDO DOS GRUPOS DE TEATRO LOCAIS PARA FOTOS DE DIVULGAÇÃO

“ O pessoal do Galpão me adotou”, afirma o fotógrafo, que se formou publicitário, é professor, mas gosta mesmo é de registrar artes cênicas. “Hoje, 70% do meu trabalho é com teatro, o resto é de publicidade. Dá menos dinheiro, mas tornei-me professor universitário para ter condições financeiras de fazer o que gosto com fotografia”, explica.

Segundo Guto, que mantém o estúdio Casa da Foto, a razão de ser tão procurado por artistas cênicos está na sua opção de não interferir na iluminação da peça em questão. “Sempre tentei passar a imagem que o espetáculo transmite, a emoção, a mensagem. Uso a luz que esta em cena e o enquadramento remete a determinada situação. Às vezes, recorro a um quadro que não é aquele que está em primeiro plano. Isso se chama alusão ao extra-quadro”, cita, referindo-se a expressão cunhada por Arlindo Machado no livro “A Ilusão Espetacular”.

Hoje, com algumas exposições no currículo, pai de Helena, de três meses e co-autor de “Rever o FIT”, livro de imagens editado em 2001, sobre as cinco primeiras edições do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte, Guto prepara-se para um mestrado, claro, em artes cênicas. Mas não pretende interromper a lida como fotógrafo das peças locais. “ Meu papel é tentar valorizar ao máximo as artes cênicas, divulgar o melhor possível. Quando fotografo uma peça, colo-a no meu site (www.casadafoto.com.br). Desde que não me prejudique, e eu já parei de trabalhar de graça, faço o que for necessário para o trabalho sair”, diz.

O QUE FALAM DO GUTO MUNIZ

“Conheço muito o Guto, é meu amigo há 15 anos, um doce de pessoa e excelente fotógrafo de cena, o que é muito difícil, pois muitas vezes o bom fotógrafo não faz a cena. Ele tem esse dom, consegue acompanhar o feeling do ator, conhece teatro muito bem e acompanha a emoção, o tempo teatral, o que é muito delicado e especial. Ele tem amor pelo teatro e faz com que esse sentimento transpareça nas fotos que tira.

Eduardo Moreira , ator e diretor do Grupo Galpão

“Sempre vi o Guto desenvolvendo essa relação com o teatro, se envolvendo. Ele mergulhou mesmo na área, se tornou um grande fotógrafo de cena e não é fácil captar a emoção, o sentimento do ator. Precisa de muita técnica, mas também é preciso ser uma pessoas extremamente sensível, delicada. Com os anos, ele acabou se aproximando de verdade, tornou-se um amigo muito especial”.

Rose Brant, atriz fotografada por Guto em espetáculos como o musical “Estrela Dalva” e o oficinão do Galpão.

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