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FOCO NA CENA

* Walter Sebastião (Jornal Estado de Minas 23/03/2009)

O fotógrafo belo-horizontino Guto Muniz, especializado em fotos da área de cultura, se prepara para retratar mais um evento de grande porte a se realizar na capital mineira de 2 a 12 de agosto, o segundo Festival Internacional Telemig Celular de Teatro de Bonecos. No mês passado, uma publicação especial dedicada às edições de 1996 a 2000 do Festival Internacional de Teatro e Rua, intitulada “Rever o FIT”, reuniu fotos de Guto Muniz e outros três profissionais.

Atualmente, o fotógrafo oficial do Grupo Galpão está entre os mais requisitados para retratar espetáculos produzidos em Minas e que chegam ao estado por meio dos eventos nacionais e internacionais de artes cênicas.

As primeiras fotos de teatro tiradas de forma amadora por Guto Muniz, com equipamento Yashica FXD, foram da montagem “Comédia da Esposa Muda que Falava mais que Pobre na Chuva”, do Grupo Galpão, e, 1986, como exercício para as aulas de fotografia da faculdade. Antes de cursar Publicidade e Propaganda na PUC Minas, ele se tornou Técnico em Eletrônica e chegou a cogitar a ideia de ingressar no curso de Engenharia. A área da comunicação e da cultura falaram mais alto.

No primeiro período, a disciplina de teatro possibilitou a Guto e a outros estudantes de Publicidade a montagem de uma peça, que originou, por pouco tempo, um grupo amador de teatro. “Mas me encaixava muito mais como fotógrafo que como ator” recorda.

Ao longo da formação universitária, Guto se tornou monitor de fotografia e foi aprofundando seus conhecimentos por conta própria. “Como 90% dos fotógrafos, fui autodidata. Fiz várias oficinas no Festival de Inverno da UFMG e cursos no Rio e em São Paulo”, revela. Por muitos anos, os fotógrafos especializados em cultura atuavam na Fundação Clóvis Salgado e se tornavam referência em Belo Horizonte, como Waldir Lau e Carlos Ernesto Falci.

A ampliação do mercado cultural da capital, com o surgimento de grupos e espaços voltados às artes, criou campo de atuação para novos profissionais como Guto.

Hoje, já são 15 anos flagrando imagens de atores, bailarinos e músicos de mais de 200 montagens de teatro, dança e shows. “Na maioria das vezes, realizo meu trabalho no decorrer dos espetáculos. É no palco, com a luz, a música e a plateia, que a cena ganha emoção. Esse conjunto de fatores faz as melhores imagens”. O fotógrafo revela que a dinâmica de fotografar os espetáculos ao vivo foi aprendendo com o tempo. Segundo Guto, estar presente pelo menos duas vezes na mesma montagem é um fator fundamental na produção de boas fotos. Para agilizar o trabalho e não incomodar a plateia, ele evita o uso de tripé. Passar despercebido pelo público, aliás, é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelo fotógrafo. Durante o FIT-96, Guto lembra que as camisetas da equipe de produção eram brancas, o que ressaltava seus movimentos em meio aos espectadores. “Parecíamos fantasmas no escuro. Atualmente, me visto todo de preto nessas ocasiões, só tenho blusas pretas no armário, mas mesmo assim levo muito pito da plateia” se diverte.

A iluminação de espetáculos é outro obstáculo a ser enfrentado pelo fotógrafo. “Acredito nos iluminadores e aproveito a luz das cenas na composição das minhas fotos. Gosto muito das imagens que registram o movimento de atores e bailarinos. As manchas dos gestos dão vida ás fotografias.”

A despreocupação técnica, Guto adquiriu com a experiência. No olho, sem precisar conferir a toda hora o fotômetro, ele aciona a câmera. “É quase como passar a marcha de um carro. Esse é o diferencial do profissional que consegue assistir aos espetáculos e fotografá-los.” O resultado final não deixa de ser uma surpresa para o fotógrafo mineiro que calcula a média de aproveitamento de 12 fotos de um filme de 36 poses que utiliza.

Os benefícios trazidos pela avançada tecnologia dos produtos fotográficos ajudam o trabalho de Guto. Câmeras menos barulhentas, objetivas mais luminosas, edição e tratamento de imagens por computador, gravação das fotos em CD para enviar à imprensa só facilitam a atividade do fotógrafo mineiro, que atua também na área de foto publicitária. A rapidez dos processos de revelação é outra vantagem apontada pelo profissional. “Acaba com o estresse de esperar o resultado. Muitas vezes tenho que tirar fotos de companhias internacionais que permanecem pouco tempo nos festivais e sem saber como ficou as fotos não posso repeti-las. Hoje, esse processo se tornou mais simples”, explica.

Adepto dos equipamentos Nikon há mais de dez anos anos, Guto, que se tornou professor da faculdade na qual se formou, afirma que ainda está na era semi-digital, pois os equipamentos estão muito caros. Mas não vê a hora de aproveitar o máximo de recursos da tecnologia.

“Hoje, tenho um scanner e um computador para editar o material que produzo. Mas tenho consciência de que ter uma infinidade de recursos sem dominá-los é uma passo para ficar refém das novidades técnicas”, pondera.

O estúdio Casa da Foto, criado por Guto em 1991, não poderia ter tido local mais adequado que o Galpão Cine Horto, sede do Grupo Galpão. Envolvido num ambiente de intensa produção cultural, com teatro, cinema, atores e ideias sempre em circulação, o fotógrafo pode usar e abusar da criatividade artística para compor seu trabalho.

Guto Muniz, 43 anos, mineiro de Belo Horizonte. O nome é pouco conhecido, mas trata-se de personalidade das artes cênicas. Não é ator, diretor ou autor de peças. Mas o fotógrafo que, há duas décadas, registra minuciosamente a mais efêmera das artes. Período em que o movimento teatral explodiu e grupos de todo o mundo se apresentaram na cidade. O resultado é acervo de cerca de 10 mil negativos, cerca de 30 mil imagens digitais, com criações de centenas de grupos. Arquivo monumental que, boa noticia, está aberto ao público pelo endereço www.gutomuniz.com.br. Não é só documentação histórica, feita com total consciência da importância do momento vivido e encantamento pelo visto, mas recriação das performances em outra mídia. É teatro em foto.

Cauteloso, com sorriso que carrega alguma ironia, Guto Muniz, descarta aproximações do seu trabalho com a atividade de diretores, dramaturgos ou ator. Sequer sonha com qualquer uma dessas funções, mesmo já tendo, há mais de 20 anos, estado no palco como ator. “É o ponto de vista do público”, afirma, em seu escritório instalado na casa em São Sebastião das Águas Claras (Macacos). A frase pode soar estranha, diante de imagens tão pessoais, mas tem explicação: “Sou fã incondicional de muitas pessoas para quem trabalho. Do Galpão, da Mimulus Cia. De Dança, do 1 Ato, do Espanca, do Odeon, da Quick e de muitos outros”, enumera com intimidade de quem conhece as estéticas, montagens e integrantes de cada um dos grupos.

“ O nosso teatro não deixa a desejar a nenhum outro do mundo. Temos muitas coisas ruins, algumas até lamentáveis, mas temos muita gente fazendo coisas boas”, afirma Guto Muniz, O fotógrafo frisa que não é elogio gratuito. “ A força do que PE feito em Belo Horizonte talvez venha do desejo de querer fazer teatro. E, para isso, enfrentam-se todos os obstáculos. Não é característica só do teatro de Minas Gerais, mas do teatro brasileiro”, completa. Move a atividade do fotógrafo encanto irrestrito pelas artes cênicas: “É história inesgotável, possibilidade de viajar para todos os universos e tempos. Fotografando, tenho possibilidade de eternizar esse momento mágico”, explica.

O interesse por artes cênicas e fotografia vem dos tempos de escola, fazendo curso de publicidade na PUC Minas. Guto Muniz nem era ligado a esses assuntos. Uma disciplina de teatro, no primeiro período, foi o suficiente para dar vida à paixão pelos palcos. Quando, no segundo período, fazendo disciplina de fotografia, teve acesso a equipamentos, correu para fotografar o que acontecia no teatro. “Revelei o filme, vi aquelas figurinhas no negativo e tive a certeza de que queria ser fotógrafo de cena. É janela para outros mundos”, garante. O que não era nada simples. “Se hoje dá pouco dinheiro, na época não dava nenhum”, recorda. Os primeiros trabalhos foram Antígona, da Sonho e Drama; Fim de jogo, de Eid Ribeiro; Josefina, a cantora, de Carlos Rocha. “ E o povo me adotou”, recorda.

ARMÁRIO CHEIO

O site com portfólio com 50 imagens e arquivo com 21 espetáculos surgiu de crise pessoal, ao ver armário cheio de negativos com história e memória das artes cênicas, em contexto que pouco é feito com relação ao tema. Não chama para si a responsabilidade em pesquisar o assunto. Apenas observa que não se trata de projeto visando divulgação pessoal. Conta que pretende, aos poucos (ele é professor de faz trabalhos para publicidade), organizar as imagens com fichas técnicas e sinopses. Enfrentando, assim, descuido da categoria com sua história e carreira. Sonha outros projetos a partir do material: imagens criadas com atores e atrizes “e meus amigos da ficha técnica”. E também alguns filmes – “Hoje é extensão do nosso trabalho”. E ainda pequena coleção de livros a partir do acervo.

“Vejo o espetáculo fotografando”, explica Guto Muniz, contando que evita ver a peça com antecedência. “É energia em cena. Interromper a ação quebra a magia”, garante. Chega cedo ao teatro, procura conhecer a sinopse do espetáculo e estuda o palco. “Procuro ficar o mais neutro possível. Digo para as pessoas: se precisar, passem por cima de mim”, brinca. Em ação, veste sempre roupas pretas, equipamentos silenciosos e não usa flash. “ Se você se dedica de verdade a algo, descobre que aquele universo é muito maior do que imaginava. A foto não fica alheia a esse sentimento. Infelizmente, nosso contexto não permite dedicação integral a um setor”, pondera, Guto Muniz, que é diretor regional da Associação Nacional de Fotografia, avalia a situação da atividade em Belo Horizonte e diz que é a mesma do teatro: “ Muitos trabalhos de qualidade, mas pouco conhecidos do público”.

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