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Para reter a memória do efêmero

* Julia Guimarães (Jornal O tempo – 14/08/2012)

Das mais de 10 mil imagens que o fotógrafo Guto Muniz, 46, já produziu sobre as artes cênicas mineiras, nem uma única se perdeu com o tempo. Desde 1987, quando começou a clicar espetáculos em Belo Horizonte, o fotógrafo conseguiu guardar todos os seus trabalhos, seja em película ou digital.

Diante desse acervo imenso e precioso – basta dizer que Guto é uma das referências mais importante da área no pais -, surgiu à ideia de disponibiliza-lo através do portal Foco in Cena (www.focoincena.com.br), que entra no ar neste domingo (19).

Antes disso, porém, o público já poderá contemplar uma pequena parte de suas fotos na exposição “Foco in Cena”, que abre hoje para convidados e, amanhã, para o público, no Memorial Minas Gerais Vale. Nela, serão exibidas 120 imagens emblemáticas da trajetória do fotógrafo no campo das artes cênicas.

“Além de guardar as fotos, eu também costumava colecionar programas dos espetáculos. Tinha um armário só para isso em casa, e, sempre que o abria, me dava pena ver o material como uma memória só minha. Então comecei a pensar numa forma de compartilhar isso com o público e vi que só num portal seria possível. A proposta, então, foi criar um site com compromisso histórico, em vez de fazer um mero portfólio só com as fotos que eu gosto”, comenta Guto Muniz.

No lançamento do portal, estarão no ar 400 diferentes trabalhos e, aproximadamente, 4.600 imagens, uma média de quase 12 por trabalho. Até o fim do ano, esse número ainda deverá dobrar, já que outros 400 espetáculos estão no forno para serem postados. Cada um deles surgirá acompanhado de sinopse e ficha técnica, e alguns virão também com links para vídeos e o programa da montagem.

Entre os destaques desse acervo, estão montagens de grupos como o Galpão, a Mimullus e o 1 Ato, além dos principais festivais cênicos internacionais de Belo Horizonte, como o de circo, de teatro e de bonecos. “Esse processo de remexer nas imagens me mostrou muita coisa preciosa, como a pré-estreia do ‘Romeu e Julieta’ do Galpão em Morro Vermelho ou as foto de ‘Antígona’, da Cia. Sonho e Drama, o primeiro espetáculo que fotografei”, conta.

Qualidades

Entre quem trabalhou com Guto Muniz, uma das características mais ressaltadas é sua sensibilidade para captar a cena.

“O Guto consegue traduzir a alma do espetáculo, suas fotos não só o resultado de um trabalho estético, ele é sensível também à dramaturgia, àquilo que está por trás da imagem”, comenta o ator e diretor Chico Pelúcio, do Galpão.

Já para o diretor Eid Ribeiro, o fotógrafo se diferencia por saber dialogar com as particularidades das artes cênicas. “Ele é a própria história do teatro mineiro, não só pelo levantamento fotográfico que construiu ao longo dos anos, mas também do ponto de vista artístico. Seu olhar é muito teatral, ele trabalha bem a iluminação e outros elemento da cena”, completa Ribeiro.

Guto revela que uma de suas principais preocupações é a de criar uma imagem que sintetize suas próprias emoções com aquilo que vê. “Evito assistir ensaios do espetáculo antes de fotografar para não criar uma concepção prévia daquelas imagens. Gosto de sentir o que vai acontecer na hora e fotografar de acordo com minha emoção”, explica.

Em busca de uma estética da lacuna e da imperfeição

Embora hoje seu foco na fotografia esteja quase exclusivamente voltado para as artes cênicas, a inserção de Guto Muniz nesse universo se deu quase ao acaso. Estudante de publicidade na PUC Minas no inicio dos anos 1990, o fotógrafo conta que pouca ou nenhuma relação tinha com o teatro ou a fotografia nessa época. Foi quando cursou as disciplinas das duas áreas na faculdade que surgiu o interesse.

“Quem ministrava a cadeira de teatro era o Arildo Barros, do Galpão, e no final da disciplina a gente tinha que montar um espetáculo e acabamos formando um grupo. Logo depois, tive a disciplina de fotografia, daí virei fotógrafo free lancer, Mas foi depois de assistir ‘Antígona’, da Cia. Sonho e Drama, que resolvi fazer meu primeiro ensaio para teatro. Havia um trabalho de corpo sensacional do Paulo Lisboa, que me fez voltar ao teatro no dia seguinte, já com a câmera”, conta.

Ao contrário de outros fotógrafos da área, Guto nem sempre privilegia a foto limpa e precisa, perfeita do ponto de vista estético. “Não tenho tanto rigor quanto a foco, algumas foto minhas são importante que a estética é o sentimento que a foto transmite”.

A partir de um pensamento semelhante, Guto conta que privilegia também imagens lacunares, que funcionem como um convite ao espectador para conhecer mais sobre o trabalho. “A fotografia não pode ser uma imagem pronta que te conte tudo, ela precisa te possibilitar imaginar um extra-quadro. Por isso sempre evito foto montada, pois ela não deixa essa brecha”, comenta.

Acostumado a transitar por todas as áreas cênicas com semelhante desenvoltura, o fotógrafo explica que cada uma delas possui suas peculiaridades. “A fotografia de dança é mais baseada no movimento, então trabalho variações na velocidade. Já no teatro, é mais importante o registro da expressão, então uso planos e contra planos, Já com os bonecos também gosto de explorar velocidades mais baixas pois assim tem-se a ideia de que está vivo, menos estático”.

Preferências

Embora explique que a tecnologia digital facilitou bastante o trabalho dos fotógrafos de artes cênicas, principalmente em relação às fotos coloridas, já que os filmes em película dificilmente captavam as cores do espetáculo em sua complexidade, Guto se assume um eterno saudosista das imagens P&B. “Para quem fotografa espetáculos, o P&B é maravilhoso, pois cria atmosfera e textura para as imagens. Mas, no resto, a tecnologia digital nos ajudou muito”.

Atualmente, o fotógrafo revela que sua predileção na área tem sido as fotos de processos de criação, não só pela possibilidade de uma imersão maior no trabalho, mas também pelo valor histórico do registro. “Sou capaz de trocar dez fotos de espetáculos por uma de ensaio. Tenho visto que a importância dessas imagens para a memória do teatro é enorme, maior até do que o registro final”.

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