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OLHO MÁGICO - Fotografar espetáculos também é arte

Carolina Braga - EM Cultura

Na escuridão do laboratório, em meio a bacias, pinças e varais, as imagens de Antígona, montagem da Cia. Sonho e Drama, foram se revelando como mágica. Era 1987. Por trás da descoberta de cada cena em branco e preto, brilhavam os olhos de um jovem monitor de fotografia. “M e apaixonei. Pensei: isso é legal demais. Não quero parar”, lembra Guto Muniz. E ele não parou mesmo.

O ritual envolvendo rolos de filmes e produtos químicos pode até ter se tornado obsoleto. Coisa do passado analógico nem tão longínquo assim. Com 27 anos de carreira, o mineiro assiste – e protagoniza – à transformação da fotografia de cena no Brasil. Entre os dias 20 e 24, ele vai ministrar oficina no Galpão Cine Horto para compartilhar sua experiência com colegas.

Foi-se o tempo em que retratos de palco eram apenas ferramentas para divulgar espetáculos. Com a dedicação de quem se entregou ao ofício, Guto diz que fotos de cena são objetos artísticos com diversas funções. Divulgar é apenas uma delas.

“Aquela fotografia não conta uma história, mas sugere, cria uma expectativa”, explica Guto. Fiel escudeiro dos principais grupos de teatro e de dança do estado, ele dedica 80% de seu tempo para registrar espetáculos. É raro encontrá-lo na plateia sem a câmera. “Assisto enquanto fotografo. Gosto da emoção da primeira vez”, conta.

Há 23 anos responsável pelo registro de todas as produções da Fundação Clóvis Salgado, Paulo Lacerda avisa: quando se trata de fotografia de cena, não há receita fixa. Algumas regras são básicas: o flash é abominado e o fotógrafo precisa ser o mais discreto possível. Habilidade para trabalhar com pouca luz também é importante. Fora isso, fica por conta da criatividade de cada um. “Com tempo, luz e posicionamento adequados, você faz belíssimas fotos. Mas cada um tem o seu tempero”, diz.

“O bom fotógrafo de cena consegue captar, sem ser visto, a essência do espetáculo em poucos registros. Isso depende de experiência, de posicionamento. Se você se posiciona mal, tem mais dificuldade de conseguir esse resumo”, explica outro craque, André Fossatti. Formado em jornalismo, ele iniciou a carreira de fotógrafo profissional como monitor. Ao seguir a recomendação de um professor para diversificar ao máximo sua produção, mas sem deixar de se especializar em algo de que gostasse, Fossati passou a fotografar shows. Dali para o teatro – e, principalmente, o circo – foi um pulo.

Dinâmica

Embora não sigam rituais específicos, fotógrafos costumam chegar mais cedo para bater papo com o diretor. É a hora de alertar sobre uma ou outra cena mais marcante. Fora isso, a recomendação é: entregue-se ao espetáculo. Mais uma vez, sem receitas. Há quem faça mais de 500 cliques por noite. Cada um à sua maneira. Guto Muniz diz não ter “dedo nervoso”: em média, são 200 fotos em uma hora.

Todos os fotógrafos concordam: há diferenças marcantes, tecnicamente falando, entre espetáculos de teatro, dança e circo. “Há a percepção de entender se a luz está baixa ou alta, o que é possível fazer com o oferecido”, explica André Fossati.

Embora fotografe todos os tipos de produção, Paulo Lacerda não esconde a predileção pela dança. O registro do movimento é algo minucioso, deve ser acompanhado por diretores e bailarinos. “Se você clicar um segundo depois, tem o movimento todo atrasado. É preciso achar o clique certo”, recomenda.

Quando começou a fotografar, o paranaense Daniel Sorrentino se encantava com planos mais fechados e a expressão dos atores. Desde 2003 ele registra peças em cartaz no Festival de Curitiba. Com o tempo, minimizou a importância que dava para os detalhes. “Hoje, vejo que a expressão faz parte de algo mais complexo.” O que conduz o trabalho de Guto é a emoção do momento do clique: “Fotografo o que faz sentido para mim, efetivamente. Contar ou não uma história vem muito mais na hora da edição”.

Documento especial

Há 11 anos em atividade em São Paulo, já passaram pelas lentes de Bob Sousa os principais coletivos da cidade. Longe da câmera, mas nem tão distante assim, o fotógrafo é aluno de mestrado em artes cênicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O plano é dedicar a dissertação à construção de uma narrativa iconográfica sobre a trajetória de companhias paulistanas, entre elas o Teatro Oficina. As fotos serão protagonistas dessa análise.

Se Bob Sousa percebe pelas imagens o quanto a encenação teatral se transforma com o tempo, no que se refere à fotografia de cena, o profissional acredita que a mudança é lenta. “A fotografia digital trouxe um novo panorama, mas não mudou muita coisa não”, diz. Segundo ele, a primeira função das imagens de cena é documentar.

“Infelizmente, a fotografia de palco não é muito usada como arte, isso se dá mais como divulgação. São raros os livros publicados, as exposições. O trabalho é muito pouco valorizado”, critica. Ele tem procurado mudar esse cenário. No fim do ano passado, Bob publicou seu primeiro livro: Retratos do teatro. Dia 17, ele inaugura exposição, no Sesc São Paulo. Em fevereiro, vai ministrar oficina. A estética de Bob Sousa é voltada para o ator, com foco no gesto e na expressão.

FIQUE DE OLHO

Os acervos de Guto Muniz e Bob Sousa estão disponíveis na internet. Há dois anos, o mineiro publicou seus trabalhos em www.focoincena.com.br. As imagens podem ser buscadas por companhia, data ou festival. Bob Sousa exibe fotos em www.bobsousa.com.br. Entre os dias 20 e 24, Guto Muniz ministra a oficina A fotografia nas artes cênicas no Galpão Cine Horto, em BH. Aberto a fotógrafos profissionais ou amadores, o curso aborda todo o processo que envolve a fotografia cênica. Informações: (31) 3481-5580 e www.galpaocinehorto.com.br.

CINCO MANDAMENTOS

Por Guto Muniz

• Seja parceiro do artista fotografado

• Esteja aberto ao que você está vendo, independentemente do estilo da peça

• Estude o que vai fazer. Procure ler sobre a companhia ou os atores que vai fotografar, além de conhecer um pouco a estética do trabalho

• Seja quase um “ninja”. O fotógrafo deve ser absolutamente discreto, não aparecer enquanto está fotografando. Ele não pode incomodar o público e os atores

• Seja criterioso na edição das imagens e se esmere no resultado

Leia a íntegra da matéria em:

http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2014/01/05/noticia_arte_e_livros,150145/olho-magico.shtml

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