Aos 80 anos, João das Neves dirige Madame Satã, novo espetáculo do Grupo dos Dez e do Oficinão Galpão Cine Horto
Um espetáculo poético e político sobre a luta de invisíveis. Madame Satã é o terceiro espetáculo do Grupo dos Dez (e o segundo dirigido por João das Neves), que se dedica à pesquisa de linguagem sobre o teatro musical e suas possibilidades. Em Madame Satã, o grupo se vale da biografia de um dos mais peculiares personagens brasileiros para dialogar com questões que permeiam a critica contra a homofobia e o racismo. Com trilha sonora inédita, o espetáculo é entrecortado por textos ora poéticos, ora combativos, e traz à tona não apenas a biografia de Satã, mas dá visibilidade às pessoas à margem da sociedade que não se enquadrarem na heteronormatividade vigente.
Aos 80 anos, João das Neves, junto com Rodrigo Jerônimo, dirige Madame Satã, novo espetáculo do Grupo dos Dez e do Oficinão Galpão Cine Horto
Com temporada de estreia no 9º Verão Arte Contemporânea, o musical do Grupo dos Dez traz a homofobia e o racismo como temas centrais e reflete o papel do negro no teatro brasileiro
O mundo que rodeia uma das mais peculiares figuras brasileiras, aquele que carregou a alcunha de primeiro travesti do Brasil, Madame Satã, é a personagem escolhida pelo Grupo dos Dez para falar de um universo invisível: a prostituição, a pobreza, o racismo, a homofobia, a transfobia e toda a violência de uma sociedade hipócrita e calada frente ao preconceito e à intolerância.
O espetáculo é resultado do Oficinão Galpão Cine Horto, que, na sua 17ª edição, apresenta um novo formato do projeto. A partir de 2014, o Oficinão abriu as portas para propostas inéditas formuladas por coletivos de criação com o interesse em desenvolver pesquisas com o fomento do centro cultural. Ao apostar na renovação e na parceria com núcleos em formação ou grupos já estabelecidos, o Galpão Cine Horto reafirma o propósito de criar espaços para o aprofundamento de processos criativos, alcançar resultados artísticos ainda mais expressivos e contribuir para o êxito e para a longevidade desses coletivos. Além da proposta de um coletivo, faz parte desse novo formato o intercâmbio do grupo selecionado com outros atores, também selecionados por edital.
Com dramaturgia assinada por Marcos Fábio de Faria e Rodrigo Jerônimo, a montagem do Grupo dos Dez apresenta Madame Satã antes mesmo dele receber este nome. João Francisco dos Santos, um dos 18 filhos de uma família pobre, trocado por uma égua e que, a duras penas, tornou-se figura mitológica da Lapa carioca sendo preto, pobre e homossexual, tudo isso no início do século XX. Cem anos depois, o que mudou?
A pergunta que retumba impulsiona a criação do espetáculo, tomando Madame Satã a metáfora de uma ideologia política e também estética. Analfabeto de pai e mãe, como ele costumava dizer, o artista Madame Satã é símbolo da incorporação de elementos da cultura ocidental europeia à malandragem carioca, com caras referência às manifestações africanas.
Assim, a montagem dá continuidade à pesquisa de linguagem do Grupo dos Dez, desenvolvida desde 2008 sobre os musicais brasileiros e que, nessa nova montagem, investiga-se, também, como a ancestralidade e a corporeidade negras podem contribuir para os espetáculos musicais tipicamente brasileiros.
Com preparação corporal orientada pelo bailarino e ator Benjamin Abras, a corporeidade das danças afro-brasileiras sutilmente se torna parte do trabalho, tendo como método principal o treinamento para a capoeira angola, o samba de roda, a dança dos orixás e a dança contemporânea. Dos terreiros de candomblé e das rodas de capoeira, deslocam-se os movimentos de raiz afro-brasileiros de seus locais originários para o palco, dando a eles significados diversos.
A trilha original, composta pelo coletivo, ganha importantes terrenos na montagem e foi criada a partir de um processo já bastante utilizado pelo Grupo dos Dez, por meio de experimentações e improvisações de melodias, com bases criadas por instrumentos musicais (harmônicos e percussivos), assim como a elaboração de letras que contribuam efetivamente para a dramaturgia. As experimentações sonoras foram orientadas pela diretora musical Bia Nogueira, e com presença do músico e arranjador Alysson Salvador.
Todo o trabalho musical foi pensado de forma a contribuir para a linguagem do teatro musical tipicamente brasileiro a partir da corporeidade e musicalidade negra, advinda de manifestações culturais que bebem da ancestralidade africana e que tanto se fazem presentes na singular musicalidade do Brasil.
Mais informações sobre a temporada de estréia no link abaixo:
http://www.focoincena.com.br/madame-sata/10368