Partida do Sensível
Renato Negrão (MG / Brasil)
Performance no Memorial (2013)
O trocadilho é um deslocamento de linguagem ordinário, forjado por diversos tipos de paronomásia. Um trocadilho é, como forma, junto com a metáfora, base de toda poesia feita neste mundo.
Um jogo de tênis que se joga não com raquetes e bolas, mas com os próprios tênis (calçados) dos participantes, é análogo a um trocadilho ordinário, mas ainda assim, um jogo, um fenômeno de linguagem, uma performance.
Qualquer jogo parte de um sistema construtivista - racional -, mas exige um esforço do sensível, mesmo que esse jogo se resuma a um "simples" lance de dados. Sobretudo se for um lance de dados jogado por Mallarmé - "Um lance de dados jamais abolirá o acaso" -. Um jogo ideal, como em Alice, via Deleuze:
1.Não há regras preexistentes, cada lance inventa suas regras.
2.Longe de dividir o acaso em um número de jogadas realmente distintas, o conjunto das jogadas afirma todo o acaso e não cessa de ramificá-lo em cada jogada.
3.As jogadas não são, pois, numericamente distintas.
4.Um tal jogo sem regras, sem vencedores nem vencidos, sem responsabilidade, jogo da inocência? Em que a destreza e o acaso não se distinguem.
Utiliza-se neste jogo/performance, um artifício do ideário tropicalista -Mautneriano - que se resume em servir-se do ordinário, do ridículo como fundamento do processo criativo, ainda que se queira dialogar com a tradição da poesia e das estratégias da arte contemporânea.
Esta Partida do Sensível é um jogo construtivista, pois, interessado também na fabricação de uma imagem no espaço - Performance, Instalação, Ready Made -; Vale-se também de um humor ordinário, ridículo, infame, patético. E o patético é, por assim dizer, o limite do drama.