Volta ao dia...
Companhia Brasileira de Teatro (PR / Brasil)
FIT BH (2008)
Ana e Margrit, duas mulheres que nao se conhecem, encontram-se num apartamento no qual nunca haviam estado. Deste ponto - e na inspiraçao dos textos de Julio Cortázar - parte a peça Volta Ao Dia...
"Quando nao se tem muita certeza de nada, o melhor é criar deveres para si próprio, como bóias".
Um dia li esta frase no conto "O Perseguidor", que é uma homenagem libertária que o Cortázar faz ao pássaro do Jazz Charlie Parker, e achei que devesse insistir na leitura da sua obra. Era 1999, e nao foi nada difícil. Eu estava justamente encenando "Adeus, Robinson!", um texto radiofônico do próprio Julio Cortázar. O ensejo da montagem foi um estímulo e desde entao, quase que diariamente, convivo com o imaginário torto, livre e assustadoramente real dos seus textos.
Há muito que as "certezas absolutas", fortes indicadores de ignorância, poder, moralismo, religiosidades desesperadas, preconceito e desamor nao me seduzem mais. O encontro diário com a dúvida de agora, a incerteza iminente e a de depois tem sido o motivo da reflexao e a lida de todo dia.
Há dias em que o sujeito acorda e pensa: "Até aqui eu cheguei. Daqui eu nao passo". A dúvida pode ser um fator de paralisia, sono, enfermidade e morte, mas, com grande dose de risco, talvez seja o fator de propulsao, o que gera o movimento, mostra a inquietaçao, tonifica os músculos do corpo.
Nada fora do comum, cada qual com a sua "vidinha", de lá para cá, tentando pôr a cabeça para fora e respirar um ar mais fresco, conseguimos nos reunir ao redor da mesa para ler e nos inspirar. Cada dia no processo de trabalho determinou o que seria o dia seguinte, e assim continua. Pegamos uma carona com o Julio Cortázar e, como os "Autonautas da Cosmopista", seguimos uma viagem com muitas paradas. Demos incontáveis voltas ao redor de nós mesmos, e do nosso quarto, da nossa casa, do outro na nossa frente, e assim por diante como numa espiral. Falamos de viagem, da busca incansável de si mesmo, de liberdade, apenas isso, todos os dias.
Marcio Abreu.
Curitiba, maio de 2002.
Texto Marcio Abreu (inspirado na obra de Julio Cortázar)
Direçao Marcio Abreu
Elenco Christiane de Macedo, Maureen Miranda / Chiris Gomes
Cenário e Figurino Teca Fichinski
Iluminaçao Nadja Naira
Música Otávio Camargo
Filme (roteiro e direçao) Marcio Abreu
Produçao Executiva Giovana Soar