foco in cena

"Você está convidado a visitar Comala, uma cidade onde o tempo oscila entre o passado e o presente; onde as pessoas que cruzam suas vielas têm a evanescência de fantasmas. Pois em Comala os mortos não se sabem ou não se querem mortos. Ou quando sabem e se querem, estão condenados, no entanto, a transportar seus corpos como fardos de que não se podem libertar. Carcassas que pesam como as lembranças que, tal como numa colcha de retalhos vão sendo tecidas e costuradas por paciente Ariadne para formar um intrigante e misterioso painel da História do México contemporâneo.

São pés, mãos, peles desfeitas pela putrefação, ossos que se confundem à poeira do chão e do tempo. Restos dos que viram traída no início do século passado a sua luta pela libertação, mergulhados agora na desesperança e no vazio. Opressores e oprimidos são aqui igualados no desespero do desamor que atinge a todos, indistintamente.

Vamos, pois, mergulhar no túnel do tempo, em nossa Comala particular. Remexer recordações, ações passadas e presentes. Talvez encontremos, assim, o elo perdido de uma humanidade ainda capaz de amor e solidariedade. Apesar de tudo."

João das Neves

(texto retirado do programa original do espetáculo)

Ficha Técnica